segunda-feira, dezembro 26, 2005

Optimismo no contexto escolar e familiar

As graves e reais preocupações relativas ao futuro escolar e profissional de crianças e jovens justificam a excessiva relevância que professores e pais atribuem ao sucesso escolar, relegando para segundo plano o desenvolvimento pessoal, emocional e relacional. As consequências desta excessiva preocupação e pressão são tremendas. A sobreposição entre valor pessoal e sucesso, leva às crianças e adolescentes uma mensagem de que valem aquilo que conseguem produzir ou atingir, em particular em termos escolares. Se não estiverem ao nível das expectativas e falharem, então não merecem ser amadas e, no extremo, a sua vida não tem valor.

A cultura da apatia, da desesperança e da morte - a contracultura dos adolescentes - pode aparecer como uma resposta inevitável ao mal-estar. Sem perspectivas positivas de futuro, o envolvimento em comportamentos de risco não saudáveis passa a fazer sentido.

Quantas vezes pelo sofrimento, compreendemos, nós pais e mães, nós professores, que urge uma viragem nas nossas atitudes, valores e pretensões, conscientes da desesperança que as actuais provocam, e que é hora de quebrar um círculo educativo constrangedor que, a perpetuar-se, tenderá a manter um povo desalentado desde o berço.

"Educar para o Optimismo" de Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro, Editorial Presença

Optimismo e cultura portuguesa

A construção da voz individual, da identidade e da postura perante os acontecimentos da vida pode entender-se como o resultado do envolvimento de cada um de nós em observações e conversações com os mais próximos e significativos, os quais, por sua vez, partilham um discurso e atitude culturais, históricas e sociais.

O discurso e a postura colectivas, e o consequente clima emocional que nos tem envolvido no último século, são tendencialmente depressivos e pessimistas. Isso é evidente na canção nacional - o fado - quantas vezes uma ladainha chorada e melancólica que tem subjacente a percepção de falta de controlo sobre os acontecimentos e a consciência clara de um destino que nos rege ("O destino marca a hora, pela vida fora, que havemos de fazer..." é a letra de um conhecido fado, exemplo exponente desse entendimento). Este sentir é expresso também numa palavra tão nossa, sem tradução directa noutras línguas - a palavra "saudade" - que tem sido por vezes vivida com uma desesperada nostalgia pelo passado, que se projecta no futuro e impede de viver plenamente o presente.

"Educar para o Optimismo" de Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro, Editorial Presença

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Pelo Prazer do Encontro

Duas pessoas se encontram.
A conversa discorre prazerosa.
Cada qual partilha sua visão, sua experiência, seu sentir com o outro de forma amorosa e desinteressada. A comunicação flui prazerosa, sem nenhuma outra intenção que não seja pelo puro prazer de nos compartilharmos com o outro.
Quem escuta, escuta com prazer e atenção, como que bebendo o suco doce de cada palavra.
Quem fala, abre seu coração, extende seu afecto, prolonga-se ao outro.
Quando um pára, um curto momento de silêncio se sente no ar, como se o que tivesse sendo dito se integrasse e consolidasse em ambos.
Pelo meio, a criança interna de cada um surge com sua curiosidade inocente procurando questionar de forma amorosa e desinteressada. Ela delicia-se em conhecer o outro, em ser surpreendida e alegrada por sua diversidade, por sua diferença. E, em cada palavra do outro, mais um pouco de si lhe é revelado. Sua identidade se abre como as páginas de um livro que vai sendo soprado por cada diálogo que se vai construindo na presença do outro.
Ali, naquele momento único do aqui e agora, cada um está com sua Presença.
Ninguém procura impor-se ao outro. Ninguém procura convencer ninguém. Ninguém busca ter razão. Cada um está pelo prazer do encontro e do diálogo afectivo que se vai construindo.
As tensões diluem-se, e o verdadeiro Ser desabrocha.
Os corações tocam-se.