quinta-feira, março 30, 2006

Progressividade

Olá BioGrupo!

Hoje apetece-me reflectir e escrever sobre algumas coisas fruto das minhas experiências de vida.Uma delas diz respeito à ideia da progressividade. Sinto que faz parte dos seres vivos, dos organismos, esta ideia de progressividade. Na Natureza, nos organismos, tudo leva seu tempo a crescer e a amadurecer. A própria transição de um estado para outro se faz progressivamente, levando seu tempo próprio, sem pressa, sem ansiedade. Assim, o sol nasce e se põe durante um dia inteiro... as 4 fases da lua vão progressivamente decorrendo... a maré enche e vaza, com seu tempo e cadência próprios... uma semeadura vai crescendo progressivamente até ao ponto da colheita. E neste processo, não há pressa, não há ansiedade, mas sim a vivência plena (no aqui e agora) de cada parte desse processo. Se hoje sou semente, disfruto desse momento. Se amanhã, sou semente germinada, vinculo-me também com esse passo do processo. Se depois viro plantinha, olho para mim e sinto-me desse ponto de vista. Mais tarde serei planta crescida e darei frutos. Depois, meu ciclo de vida encolhe-se e volto novamente à terra, doando toda minha folhagem, meus ramos e meus arbustos à terra, para que outras plantas voltem a nascer, nutridas de minhas vestes vegetais em decomposição pelos bichinhos da terra. E o Ciclo vai discorrendo naturalmente.

Quando o homem tenta apressar as coisas, quando tenta forçadamente implantar suas ideias, começa abrindo portas para encontrar resistências, para encontrar forças de negação a esse movimento forçado e ansioso. Quanto mais se força algo, mais probabilidade temos de receber resistência (e negação) como retorno.Nestes momentos, é importante saber respirar fundo e fazer uma pausa. Quanto mais não seja porque abre espaço para entrar em "feedback" com o outro e para que nossas acções melhor se ajustem ao contexto em que estamos integrados no momento (e permite depois que nos "reposicionemos" em face do contexto vivido no presente).

Em suma... um movimento orgânico nada força, apenas se exprime. É um movimento atento a tudo o que o rodeia, entrando em permanente contacto e intercâmbio com a envolvente externa. Como que os vários organismos caminhando em interrelação, em intercâmbio... como que respirando todos do mesmo pulmão e pulsando todos em mesmo coração...
E, geralmente, quando ficamos muito ansiosos, ou agitados, ou irritados, ou reactivos, começamos ficando pouco atentos à envolvente externa (deixamos de estar mais biocentrados, para ficarmos mais egocentrados)... nestes casos, respirar fundo, dar uma pausa, ou tomar uma pró-accção no sentido de me deslocar para ambientes mais "empáticos" pode ajudar a diluir as tensões que afectam essa conexão simbiótica com a Vida :-)

Beijocas,
Pedro

segunda-feira, março 13, 2006

Instinto e Auto-regulação

A busca desenfreada do prazer carnal por vezes toca os extremos de uma patologia, de uma doença compulsiva-obecessiva. Ficamos perto de um estado de loucura pouco saudável, em que a mente fica enredada num desejo obcessivo.
Paralelamente, tão louco quanto perseguir obstinadamente uma coisa, é igualmente louco inventarem-se regras e moralismos para reprimir esses impulsos. No fundo, as regras socias ou religiosas de repressão acabam também por se constituir como uma patologia que procura combater e aniquilar outra patologia. Mas combater uma patologia (de loucura obecessiva) contrapondo-se outra patologia (repressora) não produz resultados benéficos.

Por outro lado, as próprias religiões acabaram exagerando em todo o tipo de regras e exageraram a tal ponto que, qualquer impulso sexual (mesmo que saudável e com base no instinto) era visto com "maus olhos". Esta patologia cultural ainda hoje paira como uma nuvem densa e cinzenta na mente de muitas pessoas. Muitos são os que ainda (mesmo que inconscientemente) associam prazer sexual ao pecado. Os tempos de religião e de ditaduras castradoras deixaram marcas profundas nas culturas e nas civilizações ocidentais.

Por isso, fruto de regras sociais e religiosas pesadas (que descanbaram na repressão dos instintos originais da espécie humana), se assiste hoje a muitos casos de neuroses, depressões e outras patologias psiquícas.
Mas, também o pólo oposto, ou seja, todo o movimento rebelde que visa combater a repressão com formas ultra-liberais e até provocativas da cultura patológica dominante, também esse tipo de movimentos se pode tornar patológico. No fundo, acabamos por desvirtuar também o instinto primordial e acabamos por não manifestar nossa identidade fundamental, caindo numa ideologia de contra-cultura, de oposição, num enredo mental que nada tem a haver com aquilo que sentimos sinceramente.

Assim, sinto hoje como essencial resgatar a conexão com os instintos originais da espécie humana, como forma de conexão profunda com a Vida.
E é também importante salientar a forma como o instinto se manifesta, ou seja, de forma espontânea, natural e auto-regulada. Seu propósito é fazer florescer a vida, é manifestá-la de forma exuberante, é fazê-la crescer em todo o seu explendor cósmico.

Ao agirmos de acordo com esse instinto básico, que pulsa com intensidade em nossas células, estamos a agir coerentemente no sentido de expressar Vida, de expressar uma motivação existencial profunda e uma conexão com tudo o que nos rodeia (eu próprio, o outro, a natureza, o planeta em que habitamos e o cosmos). No fundo, toda acção tendo o instinto como força motriz, se revela plena de sentido e nos nutre enquanto Seres Humanos.

Um Ser Humano integrado e coligado com o seu instinto primordial, não caí nos excessos da loucura de uma busca obcessiva do prazer, mas também não caí na neurose da repressão dos impulsos naturais. O instinto se auto-regula por natureza, ele sabe o que é melhor para nós e para Vida. Seguir essa força ancestral (anterior a qualquer cultura ou civilização) é seguir a força da Vida.

Beijo Grande!
Pedro