quinta-feira, janeiro 17, 2008

Sedentarismo

Noto hoje que vivemos muito parados, muito sentados, muito sedentários. São essencialmente os trabalhos de gabinete que nos forçam a este tipo de vida sedentária.

Inicialmente, o homem vivia em tribos e explorava o território em volta à busca de alimento. Depois, veio a agricultura, e o homem ficou um pouco mais parado, cultivando os terrenos em volta. Finalmente, hoje, muitos foram os que deixaram de cultivar os terrenos para se dedicar a trabalhos de gabinete (como eu próprio, aliás) e a abastecermo-nos em supermercados.

Paralelamente, e especialmente em tempos mais remotos, os rituais de conexão ao sagrado sempre tiveram a sua importância na vida quotidiana. Rituais esses onde a musica, a dança, o movimento e a expressão corporal eram manifestações vivas desse mesmo ritual.

O Homem tinha pois uma vida em movimento: ora na sua actividade diária de geração do alimento com que vivia, ora através dos rituais de conexão ao sagrado. Hoje em dia, os computadores, os cinemas, as televisões, fizeram com que o nosso corpo permaneça mais parado e, por outro lado, trouxeram uma maior acelaração da actividade mental. Diria mesmo que vivemos numa "sociedade de acelaração e estímulo mental", fruto do modo de vida urbana actual.

Esta estagnação do corpo por contraposição com uma sobrestimulação mental é, provavelmente, também uma das causas para a actual crise de valores e psiquica da sociedade em que vivemos.

Curiosamente, começa a notar-se um certo retorno às origens com o surgimento de uma nova consciência mais atenta às questões do aquecimento global, da ecologia e, por exemplo, da agricultura biológica. Como que o Homem desejando retomar a ligação à Terra e ao Sagrado que foi descuidando ao longo dos séculos.

Por incrível que possa parecer, o facto de termos uma actividade de trabalho agrícola em vez do trabalho sedentário de gabinete, faz retomar os seguintes factores de saúde e ecologia humana:

a) Maior movimento e exercício do corpo (com o consequente bem-estar psíquico)

b) Maior exposição aos elementos naturais (ao Sol, à chuva, ao solo natural, ao ar natural)

c) Maior diversidade de conexões com a vida (ao invés dos muito trabalhos especializados e de movimentos mecanizados / automatizados / repetitivos)

Se a isto associarmos a reconexão (resurgimento) ou fortalecimento do contacto com o sagrado através dos rituais quotidianos, para além do importante factor social de convivência entre as pessoas, acho que poderemos trazer mais saúde à vida.

Enfim, toda esta especialização, todo este investimento em conhecimento tecnológico, trouxe uma enorme capacidade de produção e desenvolvimento económico ao Homem, mas a factura a pagar foi a desconexão em relação à Natureza (à Terra) e ao Sagrado. Foi também uma maior individualização ou separação (e consequente egocentrismo) das pessoas.

Mas não quero com isto dizer que agora o importante é esquecer o desenvolvimento tecnológico e regressar às origens tribais. Não se trata disto, trata-se antes de equilibrar o factor tecnológico com o factor Natureza / Sagrado / Solidariedade. Se ambos caminharem de mãos dadas, acredito que pode ser gerada uma melhoria da qualidade vida das pessoas.

Um Abraço,

Pedro