segunda-feira, novembro 28, 2005

Importância do ritmo colectivo nos dias actuais

Tudo que se modificou profundamente mudou primeiro na consciência de cada ser humano. Os físicos modernos comprovam, através de processos holográficos, que "tudo é um" e que, se assim é, a conscientização de uma só pessoa modifica a consciência de milhares de outras; a conscientização de um milhão de pessoas pode modificar a consciência de 100 milhões, e a consciência destes 100 milhões pode modificar a de um bilhão de seres humanos"
(Joachim-Emest Berendt)

Todos os escritos e mensagens dos Grandes Mestres para a época atual a consideram como uma fase de transformação, no sentido "transformar a forma em ação". Seu objetivo seria preparar uma nova era de maior harmonia, a era Aquariana, onde o enfoque - tanto para o ensinamento como para o aprendizado - deixará de ser individual para ser coletivo, e os grupos que se formarem serão os verdadeiros canalizadores do conhecimento.

A Dança Circular é essencialmente uma dança de grupo, onde um ritmo comum coloca todos seus participantes em sintonia, proporcionando maior fluxo e circulação de energia. Desta forma, o próprio grupo se toma um canal, um "cálice" para entrada da "Força", ou seja, da energia que vibra numa certa frequência diferente da energia comum e quotidiana do indivíduo.
Este tipo de Dança, além de harmonizar as pessoas através do ritmo, evoca também, na maioria das vezes, uma imensa alegria, uma alegria consciente, de amor benevolente e desapegado, exatamente o tipo de energia de que a Terra está precisando.

A dança em grupo deve ser sempre de inclusão, ou seja, mais importante que o passo certo é o ritmo correto, e a pessoa nova que chega, através do ritmo do grupo, é acolhida e acerta o passo. Acredito também que as pessoas que dançam vão percebendo, com o passar do tempo, as mudanças que ocorrem em si mesmas. Não é só o corpo físico que se toma mais leve, ágil, alegre, mas também a alma pois, assim como nos tomamos mais flexíveis em nossas articulações, também o fazemos em nossas reflexões. A forma rectilínea de pensar vai se tomando "arredondada", "espiralada": o sentido de "um" e do "todo" está sempre presente. Ao dançar vamos deixando para trás julgamentos, críticas, ideias, preconceitos, ficamos mais harmonizados, identificados e de acordo com o compasso do coração do Amor. Vale lembrar que "acorde" vem da raiz latina "cor", que significa coração.

Na Dança, ao ocupar os espaços vazios com formas geométricas, estamos preenchendo - para aqueles que possuem olhos mais sensíveis - estes espaços com luz e cores, reafirmando a máxima antiga "assim como é em cima, é embaixo".
A harmonia celestial, a música das esferas é tão antiga quanto os pitágoricos que a estudavam. Hoje em dia tentam alcançá-la através de equipamentos eletrónicos tais como os sintetizadores, por exemplo. Penso que, para perceber ou receber estes sons de maneira muito mais adequada, basta cultivar um maior refinamento dos nossos próprios "aparelhos" (nossos corpos) através dos ritmos percussivos e do desenvolvimento da voz, sem necessidade de interferência eletrónica. O uso de sons guturais, iguais às preces dos monges tibetanos, também pode ser um bom canal.
Como a maioria das Danças Circulares originou-se de pequenos povoados ou aldeias, encontramos instrumentos característicos, típicos de cada região, tais como violinos, acordeão (acorde do coração), bajpipe (gaita de fole), tambuntza, flauta e tambores.

No livro canalizado por Barbara Marciniak, "Mensageiros do Amanhecer", que fala sobre as mensagens das plêiades, ela cita: "o som amplifica a energia. Cria e sustenta ondas de coluna, construindo uma sequência de frequências. Esta energia pode ser direcionada para qualquer coisa... as danças nativas, o batuque. O chacoalhar, os movimentos em círculo criam esta onda de energia. Quando fazem sons em círculos ou dentro da circunferência do pilar de luz, criam uma coluna capaz de fazer muito mais coisas do que podemos imaginar."
O som é associado na Índia com o éter, o primeiro dos cinco elementos. O éter é a manifestação penetrante da substância divina, do qual se desenvolvem os outros elementos, Ar; Água, Fogo e Terra.
Ao estudar a escritura (desenhos e figuta&coreográficas) das Danças Circulares e ao assistir os vídeos feitos sobre elas percebi, ao voltar ou adiantar rapidamente a fita, os maravilhosos desenhos e cores que se formavam e a incrível coincidência com a "escrita" da descrição do universo.

Relembrar Sempre...

"Certos sons despedaçam e rompem. Certos outros sons estimulam e atraem. "Uma das primeiras lições que aprenderá a humanidade sob a poderosa influência do sétimo raio é a alma ter de controlar o seu instrumento, a personalidade, por meio do ritual, ou através da imposição de um rítmo regular; emitindo que é realmente o que significa o ritual.
A nova ciência da psicologia poderia ser muito bem designada como a ciência dos rituais e do ritmo do corpo, da natureza emocional e dos processos mentais ou dessas cerimônias inerentes, ou impostas pelo eu, pelas circunstâncias, pelo ambiente que afetam o mecanismo por meio do qual a alma actua. "
(Alice Bailey em “Cartas sobre Meditação Ocultista”)

Em primeiro lugar seus sonhos... os pequenos e os grandes. Em segundo lugar termino este artigo, relembrando o papel do mastro nas tradições joaninas, nas festas europeias da primavera (May Pole) e nas danças do "Palo Voador" dos lndios Mexicanos pré-hispânicos: o mastro representa a 5ª direção, aquela que faz a ligação terra/céu, além das quatro direções (norte, sul, leste, oeste). Sem este fio condutor estaremos apenas repetindo os gestos mecanicamente.

Relembro também um festival que assisti no México em Julho de 1986. Chamado de Guelaguetza, é feito nas montanhas de Oaxaca. Nele, os pequenos povoados de origem Mixteca, Zapoteca e Nahualt apresentam suas danças nesta época do ano como forma de manter viva a tradição antiga e a saúde da comunidade atual. Guelaguetza, além de ser um festival de danças, significa em zapoteca "ajuda mútua, oferenda, doação de presentes .

“Danças Circulares Sagradas. Uma proposta de educação e cura.”, Editora TRIOM

sexta-feira, novembro 25, 2005

As comunidades do futuro

Uma maneira de agir não-violenta e um pensar humano são originados no amor. Amor vem de confiança, confiança vem de verdade. Criem espaços vitais que não dêem ao homem motivos para a mentira e para o medo. Criem as bases sociais e ecológicas do amor. Confiança e amor são as forças curativas mais profundas para todas as criaturas.

1. A rede humana

Em todos os países e todas as culturas do mundo existem hoje pessoas que reconheceram irrevogavelmente, a necessidade de uma revolução positiva tanto interior quanto exterior. Todos eles trazem consigo um certo pensamento, uma certa convicção, um certo aspecto para a visão completa do trabalho que temos a fazer. Não são máquinas, mas sim humanos que decidem hoje sobre a possibilidade de um futuro que valha a pena viver. Neste sentido, queremos convidar todos para a iniciativa de uma Terra sem violência.

2. O eu comunitário

Em comunidades que funcionem surge um eu comunitário que reune todas as forças do eu individual. O eu comunitário é um desenvolvimento maior na escala da evolução dos organismos. Ele é muito superior em força e inteligência ao eu individual e pode, com a sua energia espiritual,superar situações de fome, frio ou dor que seriam demasiado difíceis parao organismo individual. O eu comunitário está em plena capacidade de funcionamento quando deixar de haver colisões desnecessárias entre os seus indivíduos e quando cada eu individual tiver despertado para a completa participação responsável no todo.

3. Individualidade

A força superior do eu comunitário não pode surgir se se homogeneizar o modo como os participantes de uma comunidade se relacionam. Os membros das comunidades futuras terão de superar completamente a sua tendência para o colectivismo e para a uniformidade, como é veiculado pelas várias correntes e media actuais. Este é o pré-requisito para que possam contribuir com responsabilidade própria na ideia de comunidade do futuro.

A força autêntica das comunidades depende da autêntica autonomiaindividual dos seus membros. Consequentemente, as comunidades do futuro apoiam e cuidam de todos os processos internos que aperfeiçoam o processo da individualidade. Este princípio é importante e decisivo para o amor.

Homem e mulher, mulher e homem, mulher e mulher, homem e homem só poderão encarar-se de um modo amoroso por muito tempo, se se encontrarem como indivíduos responsáveis e não como segmentos de um partido, de uma igreja ou de uma ideologia. Eles devem poder perceber-se e amar-se em cada momento no seu trajecto conjunto, quando estiverem livres da pressão colectiva de qualquer grupo. O Eros vive desta liberdade, pois aqui surge a intimidade na qual se pode confiar.

4. Transparência

A qualidade fundamental que caracteriza uma comunidade capaz de funcionar é a sua transparência: transparência na criação de grupos, transparência nas relações amorosas, transparência nos processos de poder e transparência nos processos de decisões. Sem transparência não há confiança, não há comunicação aberta e não há um eu comunitário. A comunidade do futuro desenvolve fóruns públicos para tornar transparente a vida em conjunto de todos os seus membros. Os próprios membros descobrem uma grande alegria em não ter de mentir mais.

5. Verdade

A verdade é necessária para a transparência. A verdade é o oposto da nossaforma de ser hoje, porque temos vindo a ser obrigados a mentir desde amais tenra infância. Agora, compete a nós continuar a seguir este hábito ou reunirmos reforços para desenvolvermos um novo tipo de convivência. A mentira impede o desenvolvimento do amor e a criação de comunidades, bloqueia a transparência e dificulta a comunicação com os seres da natureza. Um critério decisivo para avaliar a capacidade de alguém pertencer à comunidade é a sua capacidade e pré-disposição para a verdade. Mas isso só pode ser alcançado quando os motivos para a mentira tiverem sido superados. As comunidades do futuro desenvolverão um sistema de vida e de amor que não forçará mais ninguém a mentir. Poder-se-á imaginar tal: uma comunicação livre, transparente, sem mentiras entre humanos? Amantes que não tem mais de esconder-se devido a falsas promessas de eterna fidelidade? Crianças que não ouvirão mais mentiras da boca dos seus pais?

E seres humanos que também não mentirão mais aos animais? Sob estas condições não se poderá mentir tão facilmente a um peixe, com uma isca num anzol. Este conceito de verdade conduz-nos a um nível mais profundo, no qual está baseado a vida das novas comunidades. Onde surge verdade desenvolve-se confiança. E onde surge confiança, surge a cura entre todos os seres. A verdade está numa ligação tão íntima com as ideias de transparência, de ecologia, da não-violência e do amor livre que os pontos 4 a 8 criam uma unidade espiritual. As comunidades do futuro sobrevivem graças à sua capacidade de comunicação, e esta, está directamente relacionada com o grau de verdade nas suas vidas. Onde a verdade se instalou completamente, surgem novas possibilidades de comunicação, quer sob a forma espiritual, quer sob a forma telepática.

Dieter Dhum

Posso dizer tudo?

- Posso dizer tudo?
- pode.
- Você compreenderia?
- Compreenderia. Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e - por ser um campo virgem - está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza. É com ela que compreenderia tudo. Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade.

Clarice Lispector

quinta-feira, novembro 24, 2005

Diálogo

"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, na acção-reflexão (Freire, 1970). Suponha que nós fossemos capazes de compartilhar significados livremente sem o desejo compulsivo de impor nossa própria visão ounos adequarmos à visão dos outros e sem distorção nem auto-ilusão. Isto não constituiria uma revolução na cultura e eventualmente na sociedade?"
(Gerard; Teurfs, 1995).

A palavra diálogo significa por meio de significado, e este significado se dá no encontro, na acção-reflexão de que fala Paulo Freire, na conversa "despretensiosa", onde duas ou mais pessoas se encontram e se permitem entregar-se. Desse significado vão surgindo a cultura, os valores... é o espaço sagrado da comunicação activa. Gerard e Teurfs (1995) chamava de "camaradagem impessoal".

A diferença básica do diálogo e de uma discussão é que nele há a agregação de valores e conhecimentos, sem ter necessidade de perseguir um resultado específico; fica-se aberto a ele, enquanto que na discussão (quebra em partes) há rupturas, escolhas, um ênfase no linear excludente. "Não há por outro lado, o diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um acto arrogante" (Freire, 1970).

A humildade não é percebida somente pela aparência física de escuta e paciência, mas principalmente pela forma que encaramos o outro e nossa abertura para o pensamento do outro, sabendo que as diferenças são complementares e que algo que ouvimos ou enfrentamos que não seja agradável de momento, pode ser possibilidade de crescimento.

"Nós vivemos em um universo holográfico. Cada parte do universo tanto contém como está contido no todo. Se uma parte é afectada por alguma coisa (alguma mudança), esta afecta o todo e vice-versa. Então, nós vivemos num mundo relacional onde o individual impacta o colectivo e o colectivo impacta o individual. A dificuldade é que o nosso pensamento nos leva a comportarmos como se o oposto fosse verdadeiro: que nós vivemos num mundo fragmentado onde partes individuais são separadas cada uma da outra. O nosso processo de pensar funciona contra a nossa habilidade de perceber as interconexões e o todo" ( Gerard; Teurfs, 1992).


Podemos por meio do diálogo participar na teia de ideias e percepções, re-significando paradigmas. O ensaio do diálogo consiste na suspensão de julgamentos, na capacidade de comunicar-se centrado no instante e na fala, abertos à possibilidade de ouvir o inusitado, e ao ouvi-lo, dar tempo para que possa se manifestar, suspendendo por um instante a conclusão do certo ou errado, do sim ou do não.

Outro aspecto que possibilita o diálogo é a identificação de suposições.
"Aprendendo a identificar nossas suposições, nós estamos mais aptos a explorar as diferenças entre nós e os outros. Nós podemos construir uma base comum e um consenso, chegando à base dos principais mal entendidos e diferenças."
(Gerard; Teurfs, 1995).

Isto quer dizer que auto-conhecimento nos permite conviver melhor com as pessoas, possibilitando-nos perceber nossos valores, crenças, sombras e luz. Quando conhecemos as nossas suposições geratrizes, ou o que norteia nossos pensamentos, podemos nesse momento sentir as diferenças sem transferências e indisposições. O pensamento do outro deixa de ser ameaça e entramos no mundo do encontro e das complementações. Consigo buscar no diferente o que falta em mim. É preciso limpar os olhos e entrar bem dentro do coração. Abrir as gavetas de nossa alma leva tempo e requer muita disciplina e determinação. Mas é uma opção.

Ouvir é outra dádiva para a arte de dialogar. Para esta habilidade é preciso mesmo ser determinado, pois na nossa cultura ocidental, capitalista, globalizada, aprendemos desde cedo a importância do falar, do escrever e de formas de imposição e presença. Quando em um grupo há os mais caladinhos, tanto no mundo das escolas como no meio organizacional, estes são logo taxados de tímidos, e raros são os casos dos que conseguem se impor e ter um status de destaque. Ouvir decididamente não foi o que aprendemos, mas chegamos à conclusão de que para o entendimento e a comunicação genuína, precisamos parar, diminuir a rotação para poder chegar ao outro. É um desafio.

Investigação e reflexão, acção-reflexão são também elementos facilitadores de um diálogo, aprendendo a fazer questionamentos, elevando o nível das perguntas, abrindo o universo das possibilidades, desmontando e remontando para fazer diferente. Einstein (apud Gerard; Teurfs, 1995) dizia: "Nossos problemas não podem ser resolvidos ao mesmo nível no qual eles foram criados".

Texto recolhido do capítulo "2.4 - O Diálogo Como Possibilidade de Encontro e de Descoberta" do livro "Educação Biocêntrica: Vivenciando o Desenvolvimento Organizacional" de Cássia Regina Xavier de Andrade