Quando começamos a ficar atentos aos sinais que nossas acções despertam no outro, começamos a entrar numa nova fase de relacionamentos. Começamos a passar de uma relação baseada no "Eu" para o "Eu-Tu".
Por exemplo, quando estamos falando, estamos em permanente atenção a todos os sinais que o outro evidencia. Será que sua expressão facial já está mostrando desinteresse pela conversa? Será que seus músculos estão começando a ficar tensos e impacientes em face do que estou afirmando? Será, então, que é hora de parar de falar e dar ao outro a oportunidade de falar? Será que é hora de mudar de assunto?
Numa relação "Eu-Tu" o diálogo se intensifica, pois há uma interpretação contínua da informação (verbal e não-verbal) que o outro expressa e um ajustamento de nossas acções em função dessa leitura que é feita. Assim, após uma acção, fico atento ao "feedback" que o outro devolve e, em função disso, ajusto minha acção. É um processo contínuo de acção-reflexão-ajustamento. E assim se vai construindo um diálogo com o outro. Assim se vão desenhando pontes de contacto.
Mas nem sempre de rosas são feitos os relacionamentos.
Numa sociedade onde cada um tenta falar mais alto que o outro, onde cada um tenta ser orador permanente, onde cada um "atropela" o outro, é fundamental sermos firmes e saber marcar nosso espaço próprio, nossos limites. E é através dessa marcação de limites que a relação saudável se constrói.
Se eu entro no papel de "bonzinho", de deixar o outro fazer "gato sapato" de mim, estou a contribuir para destruir a relação. É quando marco meus limites, é quando sou forte e corajoso a mostrar quem sou, que me respeito a mim, ao outro e à relação.
Se alguém me fere e eu deixo que isso aconteça sem nada dizer, estou a contribuir para que o outro ache isso natural e volte a repeti-lo. Pelo contrário, mostrar ao outro o que me desagrada e fere, contribui para lhe dar "feedback" (informação) para que possa corrigir suas acções. Estou a ajudá-lo a ele a se relacionar saudavelmente comigo e estou a ajudar-me a mim no sentido de recriar à minha volta um conjunto de factores mais favoráveis à expressão da Vida em toda a sua plenitude.
É através desta troca permanente de informação entre um e outro, que uma relação saudável se cria: uma relação dialogante, com a participação de ambos na afirmação de sua identidade e, a partir dessa base, tentado aceitar suas diferenças, tentando construir consensos, tentando encontrar um caminho conjunto em que ambos se sintam nutridos, alegres e plenos; tentando reencontrarem-se pelas afinidades, pelas empatias, pelo que os une, pelo que os motiva a ambos a avançarem juntos.