segunda-feira, dezembro 26, 2005

Optimismo e cultura portuguesa

A construção da voz individual, da identidade e da postura perante os acontecimentos da vida pode entender-se como o resultado do envolvimento de cada um de nós em observações e conversações com os mais próximos e significativos, os quais, por sua vez, partilham um discurso e atitude culturais, históricas e sociais.

O discurso e a postura colectivas, e o consequente clima emocional que nos tem envolvido no último século, são tendencialmente depressivos e pessimistas. Isso é evidente na canção nacional - o fado - quantas vezes uma ladainha chorada e melancólica que tem subjacente a percepção de falta de controlo sobre os acontecimentos e a consciência clara de um destino que nos rege ("O destino marca a hora, pela vida fora, que havemos de fazer..." é a letra de um conhecido fado, exemplo exponente desse entendimento). Este sentir é expresso também numa palavra tão nossa, sem tradução directa noutras línguas - a palavra "saudade" - que tem sido por vezes vivida com uma desesperada nostalgia pelo passado, que se projecta no futuro e impede de viver plenamente o presente.

"Educar para o Optimismo" de Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro, Editorial Presença