quinta-feira, janeiro 24, 2008

Consciência e Coração

Quando a consciência se torna demasiado "afirmativa" corre-se o risco de ficarmos auto-exigindo e auto-cobrando-nos coisas, que geram sentimentos de culpa e frustação. E depois o risco de originar mais tensão oriunda da culpa, da auto-exigência, etc

A par da disciplina é necessário contrabalancear com flexibilidade e fluidez para gerar um equilíbrio (ou uma pulsação saudável entre estes dois pólos). Se ficamos só num dos pólos, podem manifestar-se formas de desequilibrio (que se notam por exemplo na expressão verbal, por vezes algo "seca e dura" consigo próprio e com determinadas atitudes dos outros). Paralelamente, a falta de uma intenção ou focus, também conduz a dispersão ou desatenção (e falta de "enquadramento" no contexto vivido). O que sinto importante é saber equilibrar ambas as forças, como que complementado-se (uma vez mais a noção de equilibrio dinâmico entre forças que "respiram" e pulsam...).

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Consciência Corporal

Outro facto associado ao sedentarismo, tem que ver com a predominância da mente sobre os impulsos e percepções corporais.

No fundo, como que se existisse um esquecimento do corpo, olhando-se sobretudo para a vontade do intelecto. Como que gerando uma dissociação ou separação entre corpo e mente.

Um dos nossos principais Mestres é precisamente o corpo através dos sinais que ele nos transmite, como que avisos nos alertando no sentido de repor um equílibrio orgânico (conectado à Vida). Quando ignoramos esses sinais, forçando a razão da mente e de principios morais dissociados dessa pulsação orgânica interna, corre-se o risco de gerar dissociações que depois se repercurtem a vários níveis (desde conflitos vários, até à própria doença corporal).

Ao estarmos atentos a essas percepções e sinais corporais, com que ganhando uma consicência corporal refinada, ressurge uma nova vibração nos nossos corpos, e impregnamos de uma nova qualidade aquilo que fazemos.

Conseguimos gerir melhor as tensões corporais, o esforço além do que é salutar e orgânico, o stress. Passamos a dar mais valor à "qualidade" do que fazemos em vez da "quantidade" do que é feito.

A consciência corporal trás, por isso, mais qualidade à vida e uma vibração mais refinada, contribuindo para desfazer tensões e esforços desnecessários e que nos consomem (ao invés de se viver a vida, somos vividos pela vida). Como resultado surge ainda o renascer de uma fluidez natural e orgânica trespassando em nós e no que nos envolve.

Outra consequência deste aspecto, é que a vida fica mais simples e centrada no que é realmente necessário, evitando uma dispersão do corpo por várias tarefas inúteis e que resultam depois em tensão.

Sedentarismo

Noto hoje que vivemos muito parados, muito sentados, muito sedentários. São essencialmente os trabalhos de gabinete que nos forçam a este tipo de vida sedentária.

Inicialmente, o homem vivia em tribos e explorava o território em volta à busca de alimento. Depois, veio a agricultura, e o homem ficou um pouco mais parado, cultivando os terrenos em volta. Finalmente, hoje, muitos foram os que deixaram de cultivar os terrenos para se dedicar a trabalhos de gabinete (como eu próprio, aliás) e a abastecermo-nos em supermercados.

Paralelamente, e especialmente em tempos mais remotos, os rituais de conexão ao sagrado sempre tiveram a sua importância na vida quotidiana. Rituais esses onde a musica, a dança, o movimento e a expressão corporal eram manifestações vivas desse mesmo ritual.

O Homem tinha pois uma vida em movimento: ora na sua actividade diária de geração do alimento com que vivia, ora através dos rituais de conexão ao sagrado. Hoje em dia, os computadores, os cinemas, as televisões, fizeram com que o nosso corpo permaneça mais parado e, por outro lado, trouxeram uma maior acelaração da actividade mental. Diria mesmo que vivemos numa "sociedade de acelaração e estímulo mental", fruto do modo de vida urbana actual.

Esta estagnação do corpo por contraposição com uma sobrestimulação mental é, provavelmente, também uma das causas para a actual crise de valores e psiquica da sociedade em que vivemos.

Curiosamente, começa a notar-se um certo retorno às origens com o surgimento de uma nova consciência mais atenta às questões do aquecimento global, da ecologia e, por exemplo, da agricultura biológica. Como que o Homem desejando retomar a ligação à Terra e ao Sagrado que foi descuidando ao longo dos séculos.

Por incrível que possa parecer, o facto de termos uma actividade de trabalho agrícola em vez do trabalho sedentário de gabinete, faz retomar os seguintes factores de saúde e ecologia humana:

a) Maior movimento e exercício do corpo (com o consequente bem-estar psíquico)

b) Maior exposição aos elementos naturais (ao Sol, à chuva, ao solo natural, ao ar natural)

c) Maior diversidade de conexões com a vida (ao invés dos muito trabalhos especializados e de movimentos mecanizados / automatizados / repetitivos)

Se a isto associarmos a reconexão (resurgimento) ou fortalecimento do contacto com o sagrado através dos rituais quotidianos, para além do importante factor social de convivência entre as pessoas, acho que poderemos trazer mais saúde à vida.

Enfim, toda esta especialização, todo este investimento em conhecimento tecnológico, trouxe uma enorme capacidade de produção e desenvolvimento económico ao Homem, mas a factura a pagar foi a desconexão em relação à Natureza (à Terra) e ao Sagrado. Foi também uma maior individualização ou separação (e consequente egocentrismo) das pessoas.

Mas não quero com isto dizer que agora o importante é esquecer o desenvolvimento tecnológico e regressar às origens tribais. Não se trata disto, trata-se antes de equilibrar o factor tecnológico com o factor Natureza / Sagrado / Solidariedade. Se ambos caminharem de mãos dadas, acredito que pode ser gerada uma melhoria da qualidade vida das pessoas.

Um Abraço,

Pedro

quarta-feira, agosto 29, 2007

Dos ideais à vivência do presente

Por séculos se tem pensado a figura de Deus (e de outras divindades) como uma figura imaculada, pura, luminosa que está nos céus e que habita fora de nós. Daqui nascem também as ideias sobre paraíso e inferno. E surge também uma "cartilha" de bons comportamentos que devemos cumprir respeitosamente para que Deus nos abra a porta.

O "menino bem comportado" entrará no reino de Deus, enquanto que os outros se destinam a arder no inferno. Esta clara separação dos mundos paira ainda hoje sobre o consciente e o insconsciente da mente de muitas pessoas. Daí a sua obstinação em dividir mundos, em separar o bom e o mau, o certo do errado, a luz da sombra, o espírito da matéria, o corpo da alma, o fraco do forte, o inferior do superior, o dentro do fora.

A igreja católica por séculos engendrou esta divisão de mundos para conseguir dominar e manter o seu poder, enraizando o medo nas pessoas pela forma da punição aos pecados (aos que estão do lado do mal, ou melhor, que não tomam partido das suas ideias). A moralidade do julgamento foi a ferramenta encontrada numa sociedade patriarcal obstinada em manter o poder.

Pela dissociação de mundos, pela definição moral de bem e de mal (que ao invés de ser pessoal fica nas mãos de uma organização religiosa ou de pessoas que se passam pela figura de mestres), nasce o julgamento e a não aceitação de uma parte de nós, dos outros e do mundo. Dessa separação interna abrem-se também portas para a separação externa (ou seja, as pessoas passam apenas a socializar-se com aquelas que pensam do mesmo jeito).

Todavia, a moralidade do bem é fruto de um imaginário idealizado por quem pretende dominar através de ideias (e surge não só através das religiões como também através da política, por exemplo). Essa pregação do ideal cria dissociações ao nível dos campos mentais que dificultam a percepção da realidade presente e vivida no aqui-e-agora. A moralidade e os ideais infiltram-se na mente e condicionam de algum modo a forma como se olha a realidade, prejudicando uma percepção espontânea, natural e conectada à vida.

Torna-se por isso um acto saudável, o saber centrar-se no presente e o desligar-se das crenças idealizadas. A vida vai então desabrochando um dia de cada vez e "passo-a-passo" o caminho vai-se percorrendo.

O Eterno Presente

Acho que hoje comecei abrandando em respeito à idealização do futuro e procuro centrar-me mais do presente. Faz-me lembrar aquele ditado conhecido de "Um dia de cada vez". Ou "passo-a-passo" o caminho acontece.

Por isso, sinto hoje que as coisas vão desenrola-se num dia-após-dia contínuo e na vivências directa de uns com os outros. Por isso, desisti de procurar idealizar um mundo, ainda para mais fazendo-o sozinho. Isolar-me do mundo e procurar idealizar um outro mundo, pode conduzir à desintegração e ao desequilíbrio.

A separação dos mundos abre um distanciamento entre mim e o presente vivido, entre mim e o mundo, entre mim e os outros. Para mim o enfoque é aqui-e-agora, no presente vivido, nas pessoas que me rodeiam, nas coisas que a vida nos trás dia-após-dia. Tudo o resto corre o risco de estabelecer-se no mundo das ideias, no mundo dos pensamentos e do imaginário, podendo originar um conflito entre aquilo que é (a realidade em que vivemos) e aquilo que imaginamos ou idealizamos. A criação de uma distância entre estes dois mundos pode ser também originador de dissociações e conflitos vários a nível mental e interno, que depois se repercurtem e projectam a nível externo (por exemplo, através de julgamentos vários aqueles que não cumprem ou seguem os ideais definidos).

Sinto cada vez mais que é hora de concretizar aqui-e-agora ao invés de esperar indefinidamente por um futuro anunciado ou até idealizado. É hora de cada um tomar a responsabilidade por si mesmo e de começar a fazer "mexer as coisas" (ao invés de esperar que algo de fora de si apareça para fazê-las "mexer").


segunda-feira, agosto 27, 2007

Deus Amigo :-)

Houve momentos da minha Vida em que via Deus (Buda, Maomé, Krysna, etc) como algo fora de mim, algo externo em mim, como um personagem que morava algures por ai e a quem eu costumava pedir coisas. Hoje acho que esta separação dos mundos se diluiu mais. As coisas estão mais próximas.

No fundo, Deus anda por ai em vários sítios... nas amoras silvestres... no chão que piso... no beijo carinhoso que dou a alguém... num abraço que dou a um sem-abrigo... num abraço que dou a um multi-milionário... nas massagens... na meditação... nas ondas do mar... Deus anda por ai... também ele "fluindo e crescendo"...

Acho que é tempo de ultrapassar a imaginação idealista da figura de Deus e de querer que ele nos venha salvar (sem responsabilização por nós próprios) ou de querermos ser iguais a esse ideal (imaculados, puros, virtuosos, gloriosos, o que for... auto-exigência que depois rapidamente se transforma em exigência para com os outros... ou seja, desse conflito interno entre realidade e o ideal que se persegue abrem-se também portas para os conflitos externos).

No fundo, é tempo de suavizar e diluir a auto-exigência de querer ser isto, ou aquilo e aqueloutro, e simplesmente saber estar no presente, e deixar fluir e aceitar as coisas. Isso não significa necessariamente uma passividade, pois o fluir e o aceitar pode passar por bastante expressão e acção.

Enfim, Deus está por ai, em meio da vida, como um amigo vivo em tudo o que existe e manifestando sua infinitude com explendor. Um Deus amplo, abrangente, inclusivo, aberto a várias possibilidades, experimentador, dinâmico, em continua expansão e retracção, um Deus em movimento.

Lembro-me agora do TAO (no seu movimento dinâmico e continuo). O Deus amigo, o Deus que flui na vida junto conosco, também ele com suas mágoas e tristezas... também ele querendo experimentar coisas novas... também ele desejoso de crescer e amadurecer... afinal de contas, um companheiro amigo não muito diferente de mim, de ti, de nós...

terça-feira, julho 10, 2007

Reflexões I

Sobrestimulação oriunda dos vários apelos do dia-a-dia... a corrida para chegar a horas... o stress para ter que realizar o trabalho no prazo apertado... a hora curta para almoço... a corrida vai e vem... depois pode-se entrar numa corrida de desenvolvimento pessoal para tentar sair da corrida do dia-a-dia... são consultas atrás de consultas... vivências atrás de vivências... ou divertimentos uns atrás dos outros... na tentativa, ora de esquecer, ora de ultrapassar, a corrida do dia-a-dia... e assim junta-se mais uma corrida à corrida que já havia... agora são duas corridas.

No meio de toda esta sobrestimulação, como se sente o corpo? Que tipo de respostas está a dar em meio de todas estas solicitações externas? Responde quase de forma automática (e reactiva) ou consegue actuar na base de um centro conectado com o que se sente? Esses impulsos de vida internos são uma base de orientação no dia-a-dia, ou são simplesmente "engolidos" pela rotina?

Ficamos identificados totalmente com esse turbilhão de pensamentos e emoções automatizados pelas reacções do dia-a-dia, ou conseguimos criar espaço, abrir espaço para que possamos escutar o que sentimos? Abrir um espaço... respirar... deixar um vazio interpor-se entre mim e esses pensamentos... não significa propriamente reprimir, rejeitar ou desqualificar esses pensamentos e emoções... significa deixá-los vir, deixá-los estar e, em simultâneo, abrir espaço para que uma outra respiração possa também emergir.

Um Abraço,
Pedro

quinta-feira, junho 21, 2007

Olho Aberto :-)

Hoje reflectia sobre o perigo de uma adoração desenfreada a algo que não tem materialização física aqui na terra onde moramos ;-)

Lembrei-me que por vezes as coisas atingem tais proporções de adoração a algo "transcendente" (ou que está para além do visível), que deixamos de olhar sequer para as coisas visíveis ou palpáveis. Quando se chega a este extremo, a adoração a algo pode tornar-se tão forte que esquecemos os simples gestos como, por exemplo, um cumprimento ou sorriso a um amigo que passa, uma conversa com alguém que simplesmente precisa conversar com outra pessoa ou dar uma mão de ajuda a quem sentimos que necessita.

Lembrei-me então que talvez uma boa forma de louvar a Deus, seja o simples amor pelo que nos rodeia e, mais ainda, a simples compreensão de que tudo o que existe é Deus, perdendo-se assim o sentido de uma diferenciação entre sagrado e profano.

quinta-feira, maio 10, 2007

Novas reflexões

Ainda no decurso da recente visita a Tamera e, também, na sequência de almoços animados, novas reflexões surgiram e que gostaria de partilhar convosco:

a) Novamente a tal pulsação entre uma visão "micro" e uma visão "macro"...

A visão "micro" como que concretizando, como que realizando uma inspiração "macro".
Por vezes, ficamos tempo demais em visões "micro" e tendemos a entrar numa obcessão pela realização de algo... gera-se uma certa rigidez (que impede uma adaptação aos tempos actuais de mudanças rápidas)... fica-se quase como os politicos obcessecados pelo poder, por convencer, por ter razão... fica-se geralmente no mundo da razão. O querer ter razão, o querer impor uma forma específica de olhar para a realidade, a insistência em ver o mundo sempre da mesma forma. A tal ponto que pode dificultar o diálogo com outras pessoas, especialmente quando nos trazem outros pontos de vista sobre a mesma realidade.
Fico agora a reflectir no seguinte... a visão "micro" concretiza através do pensamento, da acção, do falar... a visão "macro" pulsa mais do lado do escutar o outro e do sentir... para se progredir em grupo, a pulsação entre "micro" e "macro" é sublime.

Assim, quando há uma imersão excessiva no mundo "micro" é salutar sairmos um pouco dele para nos abrirmos mais às inspirações de amplitude "macro" como, por exemplo, sentir, escutar, contemplar...

E o inverso também se aplica, ou seja, permanecer demasiado tempo em visões "macro" pode conduzir a vivermos num mundo imaginário, idílico, sem concretude.

Este tema faz-me também lembrar uma pulsação entre "céu" e "terra" importantes no equilibrio.
Ou, visto de outra forma, um equilíbrio "ying" e "yang".

b) Será necessária uma comunidade auto-sustentável a 100%?

Ao ponderar sobre esta questão quando estava em Tamera cheguei à conclusão (à visão "micro") que é importante a comunidade não ser sustentável a 100% pois isso garante que há "pontos de contacto" entre a comunidade e o exterior. Se formos 100% auto-sustentáveis podemos cair na utopia de não precisar de nada do "exterior" e cairmos no mito do isolamento, da "separação" do que nos rodeia. Entra-se numa dualidade profunda oriunda da separação extrema entre "eu" (a comunidade auto-sustentável) e o "exterior".

Por isso mesmo, olho com bastante interesse para a manutenção de laços de troca entre a comunidade e a economia local. Eles são indispensáveis à propagação da vida, à difusão de novas informações entre as "partes do todo" que é indispensável ao crescimento, à evolução dos sistema (visto no seu "conjunto", ao invés de nos focarmos apenas em uma parte).
Estes laços de troca podem também contribuir para maximizar os "pontos de contacto" entre os diferentes sub-sistemas e gerar assim uma potenciação do processo evolutivo (tal como a May East referiu).

Enfim, foi mais uma partilha que hoje me surgiu após o almoço com o David.

Um Abraço,
Pedro